When did I Start Writing?

At a certain point in my life I came to the conclusion that I wanted to be a writer. I find  it hard to remember how or when exactly I got to that point. Probably, a turning point happened when I was about 25 years old and I wrote a short-story that was selected as a finalist for an anthology book. By then I had decided that being a ballet dancer wasn’t for me after all. At 17 I had dropped out of my dance uni degree and moved to advertisement and marketing. At 25 I had been working at a large multinational corporation that was draining my blood.

One day I was driving alone to work, from the car radio I heard a voice saying:

“Writing is your major gift”. I’m aware the phrase is a bit strange but I cannot change the voice from beyond just to fit the English grammar, so I will leave it as is, the closest translation.

That moment I made a decision (based on a voice I imagined because I was delirious of boredom, most probably, but who cares, right?). I had been trying to write more and more and I realised I had to find a way to have a good quality of life to have energy left for writing. If you check the post “why Australia?” you will see how that brought me to Sydney’s beautiful shores.

Although, the decision was made when I was an adult, the more I search for when I started actually writing, the further back I go.

My best friend pointed out to me that none of her childhood friends wrote a story about the time they caught the maid making out with the security guard. I was telling my friend how terrified I was of this maid because she found my story and was very upset at me. Lost in my anguish cause by the upset maid I didn’t realise that most kids don’t write about stuff like I did all the time.

When I first learnt what poetry was, I also sold some poetry to my grandfather which I never delivered because I was then as I am now: hopeless at poetry. I did try though, ended up writing a few lines without an end. I ate my payment in candy and that was that.

I remember the look in the face of my fourth grade teacher when instead of delivering a writing assignment with one page, as I was supposed to do, I delivered twelve pages. Just because I couldn’t cut the story short, stop it in the middle, I had to take the character walking all the way from school to work… Poor teacher, she was a mean one but I’m not sure she deserved that punishment.

A few years later my beautifully-bummed high-school teacher published a book with short-stories, I had a story there. (Beautifully-bummed because as a Brazilian teenager, like all other Brazilian teenagers, I was obsessed with the roundness of people’s behinds around me and such youngish teacher had very nice buttocks that would shake firmly when he wrote on the blackboard.) [Two more notes: I’m still obsessed with round buttocks and at the time it was an actual back board, where you make all that effort to write with chalk.]

While I was on my dancing career path I only thought I would write a book when I retired, I wasn’t really thinking, probably from lack of food, the brain didn’t work very well. I’m grateful to say that I added things up before starving to death and changed my mind. This is my reasoning:

I am not flexible enough to be a prima ballerina + I live in a third world country quite worried about food and health, not art + I can never eat + I am always fat = bad idea.

Once I stopped dancing professionally — I still dance for pleasure — I started writing more, I’ve always had ideas, many, many ideas for being so, even if I had to give up writing about the maid’s kisses.

Quando Comecei a Escrever?

Em certo ponto da minha vida concluí que eu queria ser uma escritora. Acho difícil me recordar exatamente como ou quando cheguei à essa conclusão. Provavelmente um dos momentos decisivos aconteceu quando tinha uns 25 anos de idade e escrevi um conto para os Anjos de Prata, um concurso do Escritor Mário Prata, onde me coloquei em quarto lugar e participei do livro lançado com os melhores do concurso. Àquela altura eu já tinha decidido que ser uma bailarina clássica não era para mim, aos 17 anos eu tinha deixado minha faculdade de dança e mudado para um curso de publicidade e marketing. Aos 25 eu vinha trabalhando em uma grande multinacional que estava drenando minha energia.

Um dia, eu estava dirigindo sozinha para o trabalho, e ouvi a voz do Fernando Morais me dizendo pelo rádio: “escrever é o seu dom maior”. Uma frase um pouco estranha, eu sei, mas não dá para mudar uma voz do além só para fazer o fraseado mais elegante.

Eu costumava ouvir o Fernando Morais falar no rádio então foi a voz dele que imaginei falando comigo, e foi essa frágil loucura que usei para tomar uma decisão. Eu vinha tentando escrever mais e mais e me dei conta que eu tinha que descobrir um jeito de ter uma boa qualidade de vida, para ter energia sobrando para escrever. Se você olhar o texto chamado “Austrália Porque?” vai ver o que me trouxe para a linda cidade Sydney.

Embora a decisão tenha sido feita quando já era adulta, quando mais procuro o momento que comecei a escrever, mais distante no passado eu vou.

Minha melhor amiga me disse que não é todo mundo que escreve histórias de como eles presenciaram a empregada beijando o segurança. Eu estava contando para minha amiga o quanto fiquei com medo da funcionária doméstica porque ela achou minha história e ficou muito brava comigo. Perdida em minha angústia infantil eu nem parei para perceber o quando é incomum, uma criança pequena, escrever sobre sua vida o tempo todo como eu fazia.

Quando eu aprendi o que era poesia eu vendi uma para o meu avô. O coitado nunca recebeu a poesia comprada, porque como poeta eu sou uma excelente novelista. Eu bem que tentei, escrevi algumas linhas sem final. Comi o meu pagamento em balas e foi isso.

Me lembro da cara da minha professora de português da quarta série quando entreguei a ela uma redação de doze páginas ao invés de uma. Eu não poderia parar a história no meio, certo? É claro que a personagem tinha que andar o caminho todo de casa até a escola.  Pobre professora ela era bem chata mas não acho que merecia tamanha punição.

Alguns anos depois meu professor mais lindamente bundado do colegial publicou um livro de contos, e um deles era meu. (Lindamente bundado porque como boa adolescente brasileira eu era obcecada com a beleza das redondezas posteriores ao meu redor, e esse professorzinho novinho tinha um par de redondezas muito belas que chacoalhavam firmemente quando ele escrevia no quadro-negro.) [Dois outros comentários: Eu ainda sou obcecada por belas bundas e naquela época era mesmo um quadro-negro, daqueles que dá um trabalho danado de escrever com giz.]

Enquanto eu ainda progredia na minha carreira de bailarina eu pensava em escrever um livro quando me aposentasse. Acho que não pensava muito claramente, devia ser por falta de alimento. Sou bastante grata de poder dizer que eu calculei as coisas melhor antes de morrer de fome e mudei de idéia. Esse foi meu raciocínio:

Eu não tenho muita flexibilidade muscular para ser uma prima bailarina + eu moro num país de terceiro mundo que se preocupa muito mais com comida e saúde do que com arte + eu nunca posso comer o que quero + eu sempre acho que estou gorda = péssima idéia.

Quando parei de dançar profissionalmente — ainda danço por prazer — comecei a escrever mais, sempre tive milhares de idéias para escrever mesmo tendo que desistir de escrever sobre os beijos da moça que trabalhava lá em casa.

A Narrativa Positiva

Para descobrir porque escrever é tão importante quanto respirar para mim, eu comecei a olhar para as coisas que gosto de fazer.

Adoro narrativas, contos, personagens. Em livros ou filmes, procuro personagens bem construídos, histórias que eu possa seguir com profundidade de personalidades e longos enredos. Amo ler, e ver séries de TV e filmes, amo conversar com amigos e seguir suas vidas e meus assuntos preferidos são relacionamentos e discutir as minúcias de como o mundo funciona.

Seguindo essa lógica, descobri que escrevo para fazer parte da construção da aventura das pessoas, para influenciar, mesmo que um pouquinho, suas escolhas e destinos.

Um calor me invade quando ouço alguém rindo de algo que escrevi, or quando eles me dizem que foram influenciados pelas minhas palavras de algum jeito. Eu escrevo para criar uma influência positiva e aceito que, às vezes, minha escrita pode ser vista através de um prisma negativo.

Eu sei, por experiência, que mudar os caminhos das nossas vidas é difícil e espero que compartilhando minhas histórias eu possa ajudar a criar coragem nos meus leitores para mudar, quando necessário, e sempre progredir em suas vidas.