Inspiração Fora de Mim

Em Junho de 2015 eu terminei meu Mestrado em Artes, Escrita Criativa, pela Universidade de Tecnologia de Sydney. Naquele momento eu não senti uma sensação de realização muito grande nem fiquei muito alegre de estar terminando o curso, fiquei simplesmente um pouco aliviada. Durante a maior parte do curso eu adorei as aulas e me senti inspirada. No final, entretanto, eu estava sentindo como se tivesse recebido muita opinião alheia na minha escrita e eu havia me perdido um pouco.

Quando terminei o projeto final achei que acabei com mais perguntas do que respostas. Eu comecei o curso para melhorar minha técnica de escrever em inglês em geral, mas eu queria especialmente ser capaz de escrever esse projeto que foi o mesmo que usei para a maior parte dos trabalhos durante todo o mestrado: é um romance de vida real, escrito num estilo de ficção, com um tom de comédia, sobre a minha amiga que é brasileira, imigrada para a Austrália, e foi uma dançarina do ventre em Sydney, se apresentando principalmente nas comunidades de culturas do oriente médio da cidade.

Pode-se perceber que o projeto é complicado e eu senti que precisava de ajuda para prepara-lo. Nunca achei difícil ter inspiração ou encontrar as histórias, o difícil para mim era encontrar como apresenta-las, estrutura-las e organiza-las.

Eu imaginava que quando chegasse ao final do curso eu teria encontrado essa estrutura. Na verdade encontrei as perguntas que preciso responder para, ai sim, encontrar essa estrutura e, com isso, encontrei uma sensação de estar meio perdida.

Eu ganhei muita técnica e me sinto muito melhor equipada do que quando comecei. Também desenvolvi resistência a críticas e uma habilidade de saber onde procurar informação.

Quando chegou o dia da cerimônia de graduação eu fui capaz se me livrar da idéia de não ter chegado onde queria ter chegado e eu tive um dia magnífico com minha irmã e minha amiga (a Musa, a Personagem).

No dia seguinte, foi a Elizabeth Gilbert, quem me fez perceber que eu deveria sim me sentir feliz e realizada. Nós temos Terça TED no trabalho e assistimos a palestra da Elizabeth naquele dia. Ela explicou que é válido imaginar que a inspiração divina é exatamente isso: divina, e portanto vem de fora da gente.

Eu me lembro que durante as aulas nenhum professor me disse: você escolhe a voz, o tom, o tempo verbal, defini o personagem e aí começa a rezar, ou falar com os seus gênios, ou seus daemons, ou anjos e pede guiança. Como seria de se esperar, nós somos ensinados a controlar, a lutar com nosso intelecto e marretar as palavras até que tomem a forma que queremos.

Eu percebi que a coisa que eu havia esquecido essa uma coisa durante meus estudos, que eu havia perdido o contato com essa parte que mora fora de mim: a súbita e super potente, mágica inspiração que faz um texto virar engraçado com umas pequenas mudanças, ou que faz com que as pessoas amem o que você escreveu mesmo se imperfeito.

Quando ouvi a Elizabeth falando dessa parte do processo criativo que não é minha, fui aliviada da responsabilidade de fazer tudo sozinha, com essa linguagem que aprendi depois de adulta. Eu recebi a solução para todos os meus problemas e a certeza de que vou chegar lá e escreverei esse livro que será capaz de transmitir o quanto as histórias são divertidas.

Eu tenho um super-poder, uma intuição que é capaz de ver além do que está à vista. Algumas vezes eu sei de coisas sem explicação e na maioria das vezes, quando essas coisas podem ser confirmadas, elas são exatamente como eu predisse. Eu tenho uma intuição sobre esse livro, eu acho que ele vai ser importante.

A outra coisa que a TED me mostrou, foi porque eu passei a me sentir realizada. A Elizabeth explica que artistas têm uma responsabilidade: continuar fazendo o que amam, continuar suando e trabalhando em sua arte. Essa é a única maneira que o seu Gênio vai aparecer para você. Eu conclui também que continuar melhorando sua técnica é o que te permite transformar uma inspiração divina na obra de arte. Imagine o que aconteceria de Van Gogh pudesse ver os girassóis em sua mente mas não soubesse pintar. O Gênio dele iria para algum outro lugar.

Com esses dois pensamentos — que um artista tem que trabalhar na sua arte, e que a técnica é o que te permite transformar idéias em obras — é que eu fui capaz de ver o meu diploma como a prova de o quando estou comprometida com minha arte, que estou fazendo a minha parte, estou sempre presente e ativa em minha arte, a escrita.

Instrumentos

No momento eu tenho 3 amores-da-minha-vida:

1) meu computador — onde todas as minhas idéias estão arquivadas. Foi um presente dos meus pais, o melhor do mundo. Meu lindo MacBook Air, com o tamanho e peso de um ipad, um teclado super macio, dessa empresa que tem tudo a ver com meus valores: criatividade, design, beleza, sensualidade (sim, o Mac tem uma linha sensual) e agilidade. Eu posso carrega-lo para todo lugar e posso escrever em qualquer lugar. E ele contém o meu outro amor-da-minha-vida: meu software de escrita…

2) meu scrivener — a descoberta que mudou a minha vida de escritora, esse programa de computador que possibilitou que eu organizasse todas as minha idéias. É perfeito para compilar projetos. Quando voce quer criar um livro você pode separar as idéias por capítulos e simplesmente ir em cada parte e preencher com o conteúdo em si. Você também pode mover as partes e capítulos de lugar e guardar itens pesquisados, notas, etc. Por final, o programa exporta o arquivo para muitos formatos, inclusive a maioria ou todos os formatos de livros eletrônicos. Amo esse negócio!

3) minha nespresso — o alimento, ainda que uma bebida, para meus pensamentos; máquina com a qual faço cappucinos mágicos, com chocolate derretido que energizam minhas idéias. Outro presente dos meus pais e minha irmã.

O WordPress da Minha Mente

Eu escrevo porque escrevo o tempo todo, mesmo sem papel e caneta, ou até sem um computador, escrevo por dentro sem parar. Tudo que acontece ao meu redor vira uma crônica no meu blog interno imaginário. Eu falo como se estivesse escrevendo, algumas vezes. O que me traria maior pesar na vida seria ter que para de escrever.

Eu já até criei histórias do que aconteceria comigo se eu tivesse que parar de escrever ou se não tivesse nada com o que escrever. Imaginei, em que situação uma pessoa não pode escrever? E ainda, o que essa pessoa faria?

Eu enlouqueceria porque quando preciso escrever algo, o escrito fica em looping na minha cabeça, e se repete incessantemente, em diálogos ou parágrafos, até o momento que eu posso sentar e passá-los para o papel.

Se eu não tivesse acesso a um computador, ou papel e caneta, eu teria que lembrar todas as frases que minhas experiências estariam criando… a minha memória certamente se expandiria, assim como o meu desespero.