Como você devora um Universo?

Como você devora um Universo que contém 50 mil palavras + 2 podcasts + um novo emprego + um site + um workshop + um programa de mentoria em conquista do espaço criativo? Com uma bocada de 1667 palavras de cada vez.


Acabei de lançar meus podcasts Creative Space Mastery em inglês e português, com meu novo site: creativespacemastery.com

De alguma forma, também concluí a maratona de escrita do Nanowrimo.org, escrevendo cinquenta mil palavras em novembro.

Finalmente, comecei em um novo emprego. Como? Me perguntei. É uma estratégia de foco, onde priorizei as tarefas para garantir o novo emprego, me dediquei à escrita das palavras para o dia (1667 palavras), e a completar alguns objetivos para os podcasts todos os dias. Seguindo a inspiração, sempre. Uma frase de um dos livros da minha coleção de mini livros está no âmago dos princípios que sigo:

“Senta para escrever o que você pensou, e não para pensar no que você vai escrever.”

William Cobbett

Eu o uso e o expando… onde sigo a inspiração para orientação, em vez de tentar forçar sua mão.

Este ano foi maníaco-depressivo, a antiga palavra para bipolar. Foi repleto de altos e baixos, com momentos de alegria extasiante, como o casamento de minha irmã e cunhado, viajar com meus pais e ter tempo para minha criatividade com uma maturidade para usá-la, como não tive em 2010 quando tirei um ano sabático para escrever (naquela época, meu tempo foi cheio de ansiedade, enquanto este ano foi cheio de alegria). Por outro lado, chamo este ano de bipolar porque, se tive alguns momentos maravilhosos, também enfrentei a morte de pessoas importantes ao meu redor, incertezas, desalento e outros desafios.

Neste ano, em uma das muitas ocasiões em que não consegui um emprego, também decidi parar de sofrer e, em vez de trabalhar mais, decidi trabalhar de forma mais leve. Concluí que se gastasse minhas economias e terminasse sem emprego e apenas com estresse para justificar o tempo que gastei, não teria valido a pena. Mas se eu tivesse avançado nos meus projetos criativos, teria sido tempo bem gasto.

A partir de então, passei a gastar metade do dia procurando emprego e o restante do dia, criando. Para me iluminar, no dia seguinte, caminhei os doze quilômetros da Lagoa Narrabeen sozinha, meditando sobre qual era o ponto de partida para meus projetos criativos, para onde minha inspiração desejava que eu fosse. O que diziam o coração e a lógica?

Eles disseram que o Ponto Zero era os Podcasts, eles eram meu coração se derramando. 

Eram algo que eu vinha trabalhando para criar há algum tempo, tinha ido ao Toastmasters para aprender mais sobre falar em público, estava escrevendo o conteúdo, e eles dariam início aos outros projetos. Enquanto eu caminhava, e dançava sozinha, ao redor da lagoa, entre cracatoas e patos, árvores, flores, moscas e abelhas, o plano se definiu. Quando me sentei para escrever naquela semana, um workshop de um dia para a Conquista do Espaço Criativo saiu. Totalmente estruturado e organizado.

Sigo a inspiração, fielmente, então dei a ela toda a minha dedicação e amor, e as ideias que eu vinha compilando e jogando em uma pasta ganharam forma, ordem, movimento e lógica. É lindo ver uma narrativa “virar“. E assim, o conteúdo ficou perfeitamente definido e organizado para meus podcasts. E como bônus, um workshop de um dia foi criado.

Quando chegou novembro, uma enxurrada de inspiração veio. Eu tinha os roteiros dos primeiros episódios dos podcasts prontos, o conteúdo para o site relacionado, e o livro sobre escrita criativa que está em seu segundo rascunho era o material perfeito para a maratona de escrita.

Foi fácil a partir daí. Fluxo criativo total. Nunca experimentei tanto disso. Quando você enfrenta muita rejeição de suas habilidades e dons, é fácil esquecer de ver esses dons, essas habilidades. É por isso que ter ajuda psicológica é inestimável.

Tenho 3 anjos, compareço às sessões e à ajuda de que preciso, e eles me mostraram o presente de ter um hiato do trabalho no auge da vida. Com gratidão no meu coração, a Musa Criativa foi generosa e neste mês, tudo está nascendo em creativespacemastery.com.

Inspiração Fora de Mim

Em Junho de 2015 eu terminei meu Mestrado em Artes, Escrita Criativa, pela Universidade de Tecnologia de Sydney. Naquele momento eu não senti uma sensação de realização muito grande nem fiquei muito alegre de estar terminando o curso, fiquei simplesmente um pouco aliviada. Durante a maior parte do curso eu adorei as aulas e me senti inspirada. No final, entretanto, eu estava sentindo como se tivesse recebido muita opinião alheia na minha escrita e eu havia me perdido um pouco.

Quando terminei o projeto final achei que acabei com mais perguntas do que respostas. Eu comecei o curso para melhorar minha técnica de escrever em inglês em geral, mas eu queria especialmente ser capaz de escrever esse projeto que foi o mesmo que usei para a maior parte dos trabalhos durante todo o mestrado: é um romance de vida real, escrito num estilo de ficção, com um tom de comédia, sobre a minha amiga que é brasileira, imigrada para a Austrália, e foi uma dançarina do ventre em Sydney, se apresentando principalmente nas comunidades de culturas do oriente médio da cidade.

Pode-se perceber que o projeto é complicado e eu senti que precisava de ajuda para prepara-lo. Nunca achei difícil ter inspiração ou encontrar as histórias, o difícil para mim era encontrar como apresenta-las, estrutura-las e organiza-las.

Eu imaginava que quando chegasse ao final do curso eu teria encontrado essa estrutura. Na verdade encontrei as perguntas que preciso responder para, ai sim, encontrar essa estrutura e, com isso, encontrei uma sensação de estar meio perdida.

Eu ganhei muita técnica e me sinto muito melhor equipada do que quando comecei. Também desenvolvi resistência a críticas e uma habilidade de saber onde procurar informação.

Quando chegou o dia da cerimônia de graduação eu fui capaz se me livrar da idéia de não ter chegado onde queria ter chegado e eu tive um dia magnífico com minha irmã e minha amiga (a Musa, a Personagem).

No dia seguinte, foi a Elizabeth Gilbert, quem me fez perceber que eu deveria sim me sentir feliz e realizada. Nós temos Terça TED no trabalho e assistimos a palestra da Elizabeth naquele dia. Ela explicou que é válido imaginar que a inspiração divina é exatamente isso: divina, e portanto vem de fora da gente.

Eu me lembro que durante as aulas nenhum professor me disse: você escolhe a voz, o tom, o tempo verbal, defini o personagem e aí começa a rezar, ou falar com os seus gênios, ou seus daemons, ou anjos e pede guiança. Como seria de se esperar, nós somos ensinados a controlar, a lutar com nosso intelecto e marretar as palavras até que tomem a forma que queremos.

Eu percebi que a coisa que eu havia esquecido essa uma coisa durante meus estudos, que eu havia perdido o contato com essa parte que mora fora de mim: a súbita e super potente, mágica inspiração que faz um texto virar engraçado com umas pequenas mudanças, ou que faz com que as pessoas amem o que você escreveu mesmo se imperfeito.

Quando ouvi a Elizabeth falando dessa parte do processo criativo que não é minha, fui aliviada da responsabilidade de fazer tudo sozinha, com essa linguagem que aprendi depois de adulta. Eu recebi a solução para todos os meus problemas e a certeza de que vou chegar lá e escreverei esse livro que será capaz de transmitir o quanto as histórias são divertidas.

Eu tenho um super-poder, uma intuição que é capaz de ver além do que está à vista. Algumas vezes eu sei de coisas sem explicação e na maioria das vezes, quando essas coisas podem ser confirmadas, elas são exatamente como eu predisse. Eu tenho uma intuição sobre esse livro, eu acho que ele vai ser importante.

A outra coisa que a TED me mostrou, foi porque eu passei a me sentir realizada. A Elizabeth explica que artistas têm uma responsabilidade: continuar fazendo o que amam, continuar suando e trabalhando em sua arte. Essa é a única maneira que o seu Gênio vai aparecer para você. Eu conclui também que continuar melhorando sua técnica é o que te permite transformar uma inspiração divina na obra de arte. Imagine o que aconteceria de Van Gogh pudesse ver os girassóis em sua mente mas não soubesse pintar. O Gênio dele iria para algum outro lugar.

Com esses dois pensamentos — que um artista tem que trabalhar na sua arte, e que a técnica é o que te permite transformar idéias em obras — é que eu fui capaz de ver o meu diploma como a prova de o quando estou comprometida com minha arte, que estou fazendo a minha parte, estou sempre presente e ativa em minha arte, a escrita.

A Narrativa Positiva

Para descobrir porque escrever é tão importante quanto respirar para mim, eu comecei a olhar para as coisas que gosto de fazer.

Adoro narrativas, contos, personagens. Em livros ou filmes, procuro personagens bem construídos, histórias que eu possa seguir com profundidade de personalidades e longos enredos. Amo ler, e ver séries de TV e filmes, amo conversar com amigos e seguir suas vidas e meus assuntos preferidos são relacionamentos e discutir as minúcias de como o mundo funciona.

Seguindo essa lógica, descobri que escrevo para fazer parte da construção da aventura das pessoas, para influenciar, mesmo que um pouquinho, suas escolhas e destinos.

Um calor me invade quando ouço alguém rindo de algo que escrevi, or quando eles me dizem que foram influenciados pelas minhas palavras de algum jeito. Eu escrevo para criar uma influência positiva e aceito que, às vezes, minha escrita pode ser vista através de um prisma negativo.

Eu sei, por experiência, que mudar os caminhos das nossas vidas é difícil e espero que compartilhando minhas histórias eu possa ajudar a criar coragem nos meus leitores para mudar, quando necessário, e sempre progredir em suas vidas.